Portugal da desigualdade salarial
Portugal é dos países da OCDE que regista maior desigualdade salarial relativa, está em 8.º lugar na relação entre os 10% de trabalhadores que ganham mais e os 10% que ganham menos.
Consta-se que, a desigualdade é ainda maior na primeira metade da tabela, entre os salários elevados e os medianos, aí a posição portuguesa sobe para o 6.º lugar.
De modo contrário, a desigualdade reduz-se substancialmente na parte inferior da tabela salarial, entre os salários medianos e os menores, aí a posição desce para o 28.º lugar, muito abaixo da média da OCDE.
A dispersão referida é má em si e também por indicar/confirmar que Portugal é, de forma geral, um país de baixos salários; de facto, países com maiores remunerações, podem até ser mais desiguais do ponto de vista absoluto, da diferença em dinheiro, e menos desiguais relativamente.
Considere-se, a título de exemplo, um país no qual os salários máximos nos dois decis dos extremos são de 10€ para o mais elevado e de 2€ para o decil 1; a sua desigualdade absoluta é de 8€ (10-2); a relativa - P90/P10 - é de 5 (10/2).
Agora um outro em que, para as mesmas posições, o vencimento maior é de 24€ e o menor de 12€; A desigualdade absoluta é de 12€ (24-12), superior à do 1.º país, enquanto que a desigualdade relativa (P90/P10) é de apenas 2 (24/12), inferior à do país acima.
Ou seja, diminuir a desigualdade relativa, pode até ser acompanhado de um aumento da desigualdade absoluta e com um aumento do rendimento de todos. O que possibilitará eliminar ou atenuar os efeitos da redução da desigualdade relativa.
Sim, seria estender muito o tema, mas nas condições históricas em que vivemos, e nas previsíveis no futuro que se pode vislumbrar, a existência de um certo nível de desigualdade é inevitável e justo.
Afirmar isto, num momento de desigualdades chocantes, aparece como uma heresia. Mas não é. Simplesmente é revelar compreensão do funcionamento da realidade social e ter clareza de objetivos para o seu aperfeiçoamento.