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Artigos Meus

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15
Jul25

Uma derrota americana

José Pacheco

Esta guerra, que ainda está em curso, e mesmo que o exército que representa o Ocidente seja o ucraniano, é um confronto entre a Rússia e os Estados Unidos. Ela não poderia ter acontecido sem o material americano. Ela não poderia ter acontecido sem os serviços de observação e de informações americanos. É por isso, aliás, que é perfeitamente normal que a negociação final ocorra entre russos e americanos.

A surpresa atual dos europeus, ao verem-se mantidos à margem das negociações, é para mim estranha. A surpresa deles é para mim uma surpresa. Desde o início do conflito, os europeus comportaram-se como súbditos dos Estados Unidos. Participaram nas sanções, forneceram armas e equipamentos, mas não dirigiram a guerra. É por essa razão que os europeus não têm uma representação correta ou realista da guerra.

Chegámos a este ponto. O Ocidente foi derrotado industrialmente. Economicamente. Prever esta derrota não foi para mim um grande problema intelectual.

Chego agora ao que mais me interessa e ao que é mais difícil para um prospetivista: a análise e a compreensão dos acontecimentos em curso. Faço conferências com bastante regularidade. Fiz em Paris. Fiz na Alemanha. Fiz em Itália. Fiz uma recentemente em Budapeste. O que me impressiona é que, em cada nova conferência, embora haja sempre uma base estável e comum a todas, há também novos acontecimentos a integrar. Nunca se sabe qual é a atitude real de Trump. Não se sabe se a sua vontade de sair da guerra é sincera. Temos surpresas extraordinárias como o seu súbito ressentimento contra os seus próprios aliados, ou melhor, os seus súbditos: ver o presidente dos Estados Unidos apontar os europeus e os ucranianos como responsáveis pela guerra e pela derrota foi absolutamente surpreendente. Hoje, devo confessar a minha admiração pelo domínio e pela calma do governo russo, que tem de (aparentemente) levar Trump a sério, que tem de aceitar a sua representação da guerra porque é preciso negociar.

Noto, no entanto, em Trump um elemento positivo e estável desde o início: ele fala com o governo russo, afasta-se da atitude ocidental de diabolização da Rússia. É um regresso à realidade e, por si só, algo positivo, mesmo que estas negociações não levem a nada de concreto.

Emmanuel Todd

14
Jul25

Estados ativo, zombie e zero da religião

José Pacheco

Uma conceptualização particular permite-me analisar o declínio religioso, não apenas neste livro, mas em todos os meus livros recentes. É uma análise em três etapas do desaparecimento da religião.

  • Distingo, primeiro, um estado ativo da religião, no qual as pessoas são crentes e praticantes.
  • Depois, há um estado que eu chamo de zombie da religião, no qual as pessoas já não são crentes e praticantes, mas mantêm nos seus hábitos sociais valores e comportamentos herdados da religião ativa anterior. Falarei, por exemplo, do republicanismo francês, que sucedeu à Igreja Católica em França na bacia parisiense, como uma religião civil zombie.
  • Chega então um terceiro estado, que vivemos atualmente no Ocidente, que eu chamo de estado zero da religião, no qual os próprios hábitos sociais herdados da religião desapareceram. Apresento um indicador temporal para datar o atingir deste estado zero, mas que não devem interpretar de uma forma moralista. Trata-se de um instrumento técnico, que me permite datar o fenómeno em 2013, 2014 ou 2015.

Utilizo para datar o início do estado zero qualquer lei que institua o casamento para todos, ou seja, o casamento entre indivíduos do mesmo sexo. É um indicador do facto de que já não resta nada dos hábitos religiosos do passado. O casamento civil decalcava o casamento religioso. O casamento para todos é pós-religioso. Repito, não disse que era mau. Não estou aqui como moralista. Digo que é o que nos permite considerar que se atingiu um estado zero da religião.

Remontar do declínio industrial ao declínio educacional e depois ao declínio religioso para, finalmente, diagnosticar um estado zero da religião, permite-nos afirmar que a queda dos Estados Unidos não é um fenómeno de curto prazo, reversível. Não será reversível, em todo o caso, durante os poucos anos desta guerra da Ucrânia.

 

Emmanuel Todd

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