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Esta guerra, que ainda está em curso, e mesmo que o exército que representa o Ocidente seja o ucraniano, é um confronto entre a Rússia e os Estados Unidos. Ela não poderia ter acontecido sem o material americano. Ela não poderia ter acontecido sem os serviços de observação e de informações americanos. É por isso, aliás, que é perfeitamente normal que a negociação final ocorra entre russos e americanos.
A surpresa atual dos europeus, ao verem-se mantidos à margem das negociações, é para mim estranha. A surpresa deles é para mim uma surpresa. Desde o início do conflito, os europeus comportaram-se como súbditos dos Estados Unidos. Participaram nas sanções, forneceram armas e equipamentos, mas não dirigiram a guerra. É por essa razão que os europeus não têm uma representação correta ou realista da guerra.
Chegámos a este ponto. O Ocidente foi derrotado industrialmente. Economicamente. Prever esta derrota não foi para mim um grande problema intelectual.
Chego agora ao que mais me interessa e ao que é mais difícil para um prospetivista: a análise e a compreensão dos acontecimentos em curso. Faço conferências com bastante regularidade. Fiz em Paris. Fiz na Alemanha. Fiz em Itália. Fiz uma recentemente em Budapeste. O que me impressiona é que, em cada nova conferência, embora haja sempre uma base estável e comum a todas, há também novos acontecimentos a integrar. Nunca se sabe qual é a atitude real de Trump. Não se sabe se a sua vontade de sair da guerra é sincera. Temos surpresas extraordinárias como o seu súbito ressentimento contra os seus próprios aliados, ou melhor, os seus súbditos: ver o presidente dos Estados Unidos apontar os europeus e os ucranianos como responsáveis pela guerra e pela derrota foi absolutamente surpreendente. Hoje, devo confessar a minha admiração pelo domínio e pela calma do governo russo, que tem de (aparentemente) levar Trump a sério, que tem de aceitar a sua representação da guerra porque é preciso negociar.
Noto, no entanto, em Trump um elemento positivo e estável desde o início: ele fala com o governo russo, afasta-se da atitude ocidental de diabolização da Rússia. É um regresso à realidade e, por si só, algo positivo, mesmo que estas negociações não levem a nada de concreto.
Emmanuel Todd
Uma conceptualização particular permite-me analisar o declínio religioso, não apenas neste livro, mas em todos os meus livros recentes. É uma análise em três etapas do desaparecimento da religião.
Utilizo para datar o início do estado zero qualquer lei que institua o casamento para todos, ou seja, o casamento entre indivíduos do mesmo sexo. É um indicador do facto de que já não resta nada dos hábitos religiosos do passado. O casamento civil decalcava o casamento religioso. O casamento para todos é pós-religioso. Repito, não disse que era mau. Não estou aqui como moralista. Digo que é o que nos permite considerar que se atingiu um estado zero da religião.
Remontar do declínio industrial ao declínio educacional e depois ao declínio religioso para, finalmente, diagnosticar um estado zero da religião, permite-nos afirmar que a queda dos Estados Unidos não é um fenómeno de curto prazo, reversível. Não será reversível, em todo o caso, durante os poucos anos desta guerra da Ucrânia.
Emmanuel Todd
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